O termo fenomenologia não pode ser definido através de uma fórmula fechada -acabada- ou seja, uma explicação concreta acerca de sua essência, tendo em vista que a própria fenomenologia, a grosso modo, é a filosofia que busca pela essência das coisas. Mesmo após tendo se passado muito tempo desde que esta corrente nos foi apresentada por Husserl (1859-1938) ela ainda suscita calorosas discussões no que diz respeito a sua conceitualização. Tomaremos como base o prefácio do livro “Fenomenologia da Percepção” escrito pelo francês Merleau Ponty (1908-1961) para tentarmos abordar de forma mais ampla o supramencionado tema.
Como vimos, a fenomenologia é uma vertente que acima de tudo procura “sentir” o mundo ao invés de apenas descrevê-lo idealmente, por isso enfatizará o papel da consciência e percepção do sujeito no que tange a interpretação dos fenômenos. “Buscar a essência do mundo, não é buscar o que ele é em idéia, uma vez que o reduzimos a tema de discurso, é buscar o que ele é de fato para nós antes de qualquer tematização.” (PONTY, 1971, p.13)
Em outras palavras, mesmo que não queiramos o mundo nos fora “dado” factualmente, faz parte de nossa realidade existencial. Temos então uma relação unilateral com os objetos na medida em que os absorvemos de acordo com a intencionalidade de nosso intelecto. Todavia, faz-se importante ressaltarmos neste momento, que a fenomenologia não é um retorno idealista a consciência e a exigência de uma descrição pura, tal como nos propõe Karl Popper (1902-1994), que exclui tanto o procedimento de análise reflexiva quanto o da explicação relativa acerca dos experimentos científicos, existe entre estes métodos e o sujeito uma relação de correspondência Neste sentido, a própria ciência é um empreendimento secundário, já que subsiste apenas através da constituição natural dos elementos externos.O fim do mundo aniquila a ciência.
Todo o universo da ciência e construído sobre o mundo vivido e se quisermos pensar na própria ciência com rigor, apreciar exatamente seu sentido, e seu alcance, convém despertarmos primeiramente esta experiência do mundo da qual ela é a expressão segunda. (PONTY, 1971, p.6)
Retomando a questão acerca do fundamental papel do sujeito no que tange ao processo interpretativo,verificamos que consciência do individuo é sempre determinada, sempre consciência de “algo”. A saber, apenas nos seria possível não subjetivarmos as interpretações no ventre materno, fato que nos parece pouco plausível: “...sou a fonte absoluta, minha existência não provém de meus antecedentes, de meu meio físico ou social, ela se dirige a eles e os sustenta, porque sou eu que faço ser para mim ...” (PONTY, 197, p.6)
Enfim, como havíamos mencionado no início do texto, não podemos caracterizar a fenomenologia de modo positivo. O próprio autor nos aponta o caminho: “É em nós mesmos que encontraremos a unidade da fenomenologia e seu verdadeiro sentido.” (PONTY, 1971, p.6)
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