foto calvitti

foto calvitti

Utilize a versão WEB do seu celular para visualizar as Atividades!!

UTILIZE A VERSÃO WEB DO SEU CELULAR PARA VISUALIZAR AS ATIVIDADES!!

MENU PRINCIPAL

MENU PRINCIPAL

ATIVIDADES (Ensino Fundamental II)

ATIVIDADES (Ensino Médio)


terça-feira, 18 de agosto de 2020

A Consolação da Filosofia

Bom dia, segue proposta de atividade para o 3º bimestre.

Primeira atividade: ler o texto (comentário) sobre a obra "A Consolação da Filosofia" de Boécio. Identifique e aponte o que o filósofo fala sobre temas como - "apego", "ambição", "amor" e "honra".


Introdução

O presente texto tratará de forma resumida sobre uma das obras mais lidas da Antiguidade: “A Consolação da Filosofia”, escrita na prisão por Anicius Manlius Torquatus Severinus Boetius, o Boécio.  Nascido em Roma entre os anos 475-480 d.C e assassinado em Pavia no ano de 524, Boécio foi uma das figuras mais importantes no que se refere à contribuição deixada em vários campos do conhecimento tais como a teologia, a filosofia e a lógica. Ateremos-nos especialmente aos capítulos II. 9 ao II. 16, da supracitada obra, onde encontramos uma grande preocupação por parte do autor em tratar de assuntos tais como “apego”, “ambição”, “amor”, “honra” e “fortuna”, justamente por encontrar-se desprovido do conforto e do luxo gozados outrora na emergente sociedade romana. Sabe-se que Boécio possuía elevado grau de cultura, já que tinha profundo conhecimento da língua grega e transitava livremente entre os textos clássicos (encontramos a legitimidade de tal afirmação nas páginas da “Consolação” já que foram escritas em austeras condições por um homem condenado à morte, não contando este com nenhum livro em sua cela, apenas com a companhia de uma ilustre dama, a Filosofia). Nesse sentido, de acordo com Fumaroli “a filosofia vai começar verdadeiramente a fazer o olhar interior de Boécio mudar de rumo, a demovê-lo da mistura das aparências e da realidade que confunde a própria razão neste mundo sublunar, a ensiná-lo a reconhecer a verdade de Deus” (1998, p.31). Ou em outras palavras, imerso na solidão do cárcere, Boécio passou a contemplar os verdadeiros valores da existência, e, por conseguinte, transcendeu os limites do seu corpo violentado pelos tremores internos e pelas inúmeras seções de tortura as quais era constantemente submetido.


Da Efemeridade dos Bens Materiais.

Um dos pontos mais enfatizados pelos pensadores Antigos tange a questão da transitoriedade dos bens terrenos. Exemplos são muitos - desde os filósofos pré-socráticos, passando pelos sábios do oriente, e finalmente pelos cristãos, encontramos um ponto em comum: a expressa recomendação destas correntes para que o homem seja moderado em suas ambições e pratique o desapego. No caso de Boécio, foi preciso que um conjunto de situações (acusações de difamação ao Imperador, conspirações políticas, etc.) distintas, o conduzisse à beira do absurdo para que tais teorias pudessem ser vistas na prática, ou seja, os principais momentos de reflexão da vida do destituído “magister officiorum” deu-se dias antes de sua morte. Eis as palavras da consciência do romano pronunciadas pela boca da clarividente dama: “Mesmo se os dons da fortuna não fossem frágeis e passageiros, haveria um bem ao menos que fosse inteiramente teu e que resistiria a um exame atento e minucioso? As riquezas tem mais valor por si mesmas ou por pertencerem a ti? Qual delas tem mais valor? O ouro? Ou uma profusão de objetos? Ora, as riquezas parecem ter mais valor quando se vão do que quando são adquiridas.” (BOÉCIO, 1998, p.38). É através destes questionamentos em forma de condenação que o filósofo adquiri consciência acerca da impropriedade da avareza e da inutilidade do vil metal. Servir-lhe-iam agora incontáveis bezerros de ouro? Poderiam taças de prata devolver-lhe a liberdade? Absolutamente não. A ilustre dama nos ensina que “A ordem das coisas se inverte a tal ponto que um ser vivo, racional e feito à imagem de Deus crê poder distinguir-se apenas pela posse de objetos sem vida” (BOÉCIO, 1998, p.40). Felizes eram os homens de outros tempos, sustentavam-se com os frutos da terra e contemplavam a magnitude das belezas naturais!


Da Honra e do Poder como fonte de Ignorância

Como vimos anteriormente a riqueza não garante ao seu proprietário paz e tranqüilidade, pelo contrário, faz com que este se conduza de forma temerosa e sirva-lhe como escravo. Tampouco outorga-lhe valores como poder e honra, já que déspotas vorazes são detentores de grandes quantias e mesmo assim procedem de forma indigna. Que poder tem o homem diante da morte, ou então, sobre um espírito inabalável? Pode-se dominar o material, ou seja, o corpo, porém é impossível encarcerar a alma. Diz-nos Boécio que “O homem livre e honesto morderia a própria língua, parti-la-ia e a cuspiria no rosto do tirano. Assim, as torturas que o tirano considerasse instrumento de crueldade e pavor tornar-se-iam para o sábio uma oportunidade de mostrar sua virtude” (1998, p.43). O livro do Eclesiastes parece ter servido como referência para Boécio em diversos momentos já que seus versos assemelham-se muito com os do referido livro bíblico (fizemos tal comparação apenas a nível ilustrativo, já que reconhecemos o caráter “pagão” da obra de Boécio). A honra de um homem martirizado reside no fato de aceitar a morte de forma imperturbável, ou seja, os altos cargos ocupados anteriormente não trazem liberdade espiritual a quem apenas os carrega na lembrança. É exatamente nesse momento de nudez que então percebe quão ignorante fora em buscar deleite em fontes tão ínfimas. “Mas pensa na pequenez e na futilidade de uma tal motivação!” (BOÉCIO, 1998, p.48). Segue um trecho do belo poema cantado pela dama:

“Todo aquele que persegue a todo custo

Somente a glória e a estima mais que tudo,

Deveria observar a imensidão dos espaços celestes

E a relativa pequenez da Terra.

Incapaz de vencer uma curta distância,

Seu nome glorificado lhe causará vexames.

Por que, seres orgulhosos, essa insistência em remover

Em vão de vossos ombros o julgo da mortalidade?

Mesmo se uma fama atinge povos distantes, 

Ali se espalha e se ouve falar dela,

Mesmo se uma família se honra com vários títulos,

A morte despreza como a tudo os píncaros da glória...” (BOÉCIO, 1998, p.49).


Há Benefícios na Fortuna?

Recebemos através da pena de Boécio diversas recomendações acerca de como devemos proceder em vista da sedução propiciada pela “Fortuna” e suas ramificações. Contudo passaremos agora a discorrer sobre a questão positiva desta vertente, já que conforme o filósofo ela tem muito a ensinar aos homens: “a Fortuna é mais benéfica aos seres humanos quando se mostra adversa do que quando se mostra favorável. Quando se mostra sedutora e atraente está sempre mentindo com sua aparência de felicidade; a adversa, porém, é sempre sincera quando revela por suas reviravoltas seu caráter instável. Uma engana, a outra instrui” (1998, p.50). Um aspecto interessante a se observar nessas proposições refere-se ao modo dualístico pelo qual Boécio analisa a Fortuna (subdivide-a em “desfavorável” e “favorável”) sendo que esta se utiliza de diversos feitiços para desencaminhar seu possuidor, enquanto aquela tem a propriedade de reconduzir o homem aos seus fiéis companheiros: “Agora, tu te queixas da ruína; contudo, encontraste por isso mesmo tua mais preciosa riqueza: teus verdadeiros amigos” (BOÉCIO, 1998, p.51). Um dos mais ricos poemas já elaborados referente ao amor completa tais considerações. Vejamos:

“Oxalá o Universo, numa perfeita concórdia,

Conheça variações harmoniosas,

E os elementos em disputa

Observem um pacto perpétuo.

Oxalá Febo conduza a rosa e a luz 

Do dia em seu carro de ouro

Para que Febe domine as noites 

Trazidas por Vésper.

Tudo isso para que o mar insaciável contenha

Suas ondas num limite determinado;

Para que os solos movediços não possam 

Se estender por vastas regiões.

Eis a série de fenômenos controlados

Por aquele que rege a Terra e o Mar

E que comanda o Céu: o Amor.

Se por acaso ele afrouxa suas rédeas

Lá onde hoje ele reina, 

Logo se instalará a guerra,

E o mecanismo que agora é movido 

Com coerência e beleza

Não poderá resistir às forças destruidoras.

Pois é também o Amor que sustenta os povos

Unidos por um pacto inviolável,

É ele quem reforça os laços sagrados

Do casamento por relações virtuosas;

É ele também quem dita as leis

Aos seus fiéis companheiros.

Bem-aventurado será o gênero humano

Se seu coração obedecer ao Amor,

O mesmo a quem o próprio Céu estrelado obedece” (BOÉCIO, 1998, p.52).

Referência bibliográfica

BOÉCIO. A Consolação da Filosofia. Prefácio de Marc Fumaroli. Traduzido do latim por Willian Li. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 156 p.


Nenhum comentário:

Postar um comentário